“Hiroshi disse pra levar uma garrafa com água da nascente pra beber em São Paulo, pois, assim, íamos conhecendo a água, a água ia nos conhecendo e aos poucos íamos pertencendo a este lugar. Depois construí uma casa aproveitando a chuva que cai no telhado, o quentinho do sol pra esquentar a água, cuidando do esgoto e aproveitando essa água já quase limpa e nutritiva para as árvores. Quando fui pensar em como aproveitar a água do telhado, sorri, porque fazer aquela economia já fazia parte de mim. Em geral a gente não se preocupa com a água: abrimos a torneira e ela está lá. Mas em Tanque Novo, povoado onde morava meu avô e onde passei férias na infância, a água era preciosa. A água de beber chegava no lombo do jegue de 15 em 15 dias (mais tarde, vieram os carros-pipa); pra lavar a louça, tomar banho e outros usos tinha que ir buscar no tanque represado, ou pegar a água do telhado. Assim, na casa do vovô Guilhermino costumava, e ainda hoje é assim, ter uns potões de cerâmica em cada extremidade do telhado. Essa água rendia!
Então essa preocupação com a água era minha velha conhecida; assim como esta água daqui da fonte que eu fui aos poucos conhecendo e me dando a conhecer.
Hoje a educação virou “educação ambiental”— é assim mesmo; quando estamos distantes e precisamos retornar, quando precisamos reaprender, nomeamos; olhamos aquilo de fora e damos um nome. Penso muito nessa “educação”: quando e como nossas crianças e nossos jovens vão ter aquele clique que muda tudo; aquela compreensão que é visceral e que nem precisa de prova; é como se o aluno dissesse ‘professora, não precisa mais explicar, já entendi’. Quando vamos fazer aquela água fazer parte das nossas crianças, assim como o Hiroshi me fez compreender com todo o meu ser o que era beber daquela água? Como vamos ajudá-los a acessar esse algo tão precioso em cada um deles, e mostrar-lhes o cuidado que devem ter com a terra, com o planeta, assim como a mãe que cuida do seu bebê, e não é necessário ninguém dizer a ela que aquele bebê precisa de cuidados? Eis aí o grande desafio!
Pertencer, fazer parte, integrar, integral, inteiro, íntegro, orgânico.
Educar para ser. Educar para ser inteiro, e não pela metade. Porque, quando se é inteiro, ou se busca essa inteireza, quando as tempestades vierem, elas te balançam, mas elas não te derrubam.
Olá, Qual o seu endereço de email? Gostaria de entrar em contato com vc.
ResponderExcluirAbs. Christine Ruta
Christine, pode escrever para: raquel.ri@uol.com.br
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